Como é o curso de arquitetura? Parte 3

Arquitetura sustentável. Mais do que estar na moda, essas duas palavras parecem que são bem recentes no mercado atual certo? Errado. Elas são bem antigas, mas por que hoje comenta-se tanto em sustentabilidade?

Sustentabilidade_arquitetura_faculdade_curso_arquitete_suas_ideias

Energia, bens de consumo, desperdício, economia, dinheiro, meio ambiente, materiais renováveis. Como definir sustentabilidade? O que é, de onde veio, para onde vai e o que isso tem a ver com a arquitetura?

Para mim, o conceito de arquitetura sustentável esta um pouco desvirtuado. Hoje parece que arquitetos, engenheiros e especialistas só “fazem” arquitetura sustentável para ganhar dinheiro ou méritos. Sim, pois uma casa ou prédio sustentável vale mais, ganha selos e prêmios. Mas por que isso precisa ser tão visado na mídia? Na minha opinião essa arquitetura sustentável deveria fazer parte do projeto assim como pensar que um quarto deveria ficar do lado do sol e não ao contrário dele, ou seja, algo natural na hora de projetar e não ser um “plus” para se cobrar mais por isso.

Imaginem a cena de um profissional falando com seu cliente: “Para que seu quarto pegue mais sol durante o dia, terei que pensar nisso de forma especial, por esse motivo o projeto sairá mais caro”. Surreal não?

Para ter a dita sustentabilidade precisamos mudar os atuais mecanismos projetuais para rever conceitos e técnicas. Tudo isso começa com a discussão no meio acadêmico, pois ele é o preparador do “fazer” arquitetura. Já passamos da fase em que a arquitetura sustentável estava ligada a algo muito caro ou muito rústico e estamos vendo novos parâmetros na prática da mesma.

Mas há projetos por aí que se vangloriam em dizer que recolhem água da chuva para o reuso! Ou que a insolação é a melhor para o dia-a-dia, ou ainda que há tratamento de esgoto e água cinza. (Água cinza é qualquer água residual, ou seja, não-industrial, a partir de processos domésticos como lavar louça, roupa e tomar banho.)

Por que vender algo que deveria ser inerente ao projeto desde o início? Porque todo mundo que morar em um edifício verde, pela consciência ecológica. Mas há muitas pessoas que não reciclam, não reusam nem reduzem, os famosos 3 Rs.

Já cheguei a ler em sites , que o “território da arquitetura sustentável é ainda demasiadamente novo”, nessa hora só penso: O quê????????

Claro que a arquitetura tem um papel fundamental nessa missão de “sustentabilizar” o mundo. Mas isso vem sendo feito há muito tempo! Por exemplo, 5 mil anos antes de Cristo, no Japão, as casas do Período Joumon eram semi-enterradas para aproveitar o calor da terra no extremo frio do inverno. “Aproveitar o calor da terra”? Não parece um termo recente na arquitetura? Assim como aproveitar a água da chuva, a força dos ventos ou a energia do sol. Isso tem que ser permanente, em qualquer projeto, como algo natural, sem preciosismos.

O pensar arquitetura é inerente a diversas etapas da construção. Só para se ter uma ideia, no japão eles já reciclam lixo a mais de 500 anos!!! O Brasil nem tinha sido “descoberto” ainda e por lá já se reciclava lixo. Mas o que tem a ver reciclar lixo com a construção? A educação, cultura e costumes de um país. Pensem em uma obra no Brasil, pode ser uma casa, um prédio ou que for. Quais são as primeiras coisas que você vê? Sujeira, materiais quebrados ou jogados num canto, despercídio de tempo e dinheiro. Claro, se nem ao menos reciclamos o lixo de casa, como podemos querer que uma obra seja limpa e sem desperdício? Ao reciclar você sabe de onde vem e para onde vão os materiais. Ao levar isso para obra, sabe-se que desperdiçar material é economicamente inviável, porém muito comum no nosso pais. Eu fiquei abismado com a limpeza e cuidado com os materiais em solo nipônico.

Um exemplo, são as mulheres brasileiras na construção civil. Cada vez mais elas estão melhor cotadas para trabalhar na obra pois são mais caprichosas, habilidosas e detalhistas, chegando ao ponto de ter 100% de aproveitamento do material, sem desperdiçá -lo.

Nesse ponto, temos que voltar lá na faculdade, onde os alunos aprendem a projetar, a procurar materiais diferentes, a tentar sem medo de errar. Porém o problema começa se ao ter um projeto em mente, esses “detalhes” sustentaveis só são pensados, na maioria das vezes, depois do projeto pronto. Tudo deve ser pensado junto como um todo. Aprendi que para mudar algo no projeto, existe um custo X, na obra, um custo 5X e depois de pronto passa para um custo 25X. Ser sustentável é pensar em todas as etapas, da aquisição do material ao descarte das sobras.

Dentro do curso de arquitetura, deveria haver maior integração entre as próprias matérias e quiçá com outros cursos, pois é dificil trabalhar o termo sustentabilidade dentro de uma aula de projeto ou urbanismo. Segundo Frijof Capra: “Quando formamos parte de uma sociedade ou rede, automaticamente nossos comportamentos vão se igualando, influenciados pelo grupo. Isso vai desde a roupa, bens, aspirações e até mesmo os sistemas orgânicos. Da mesma maneira as matérias, os cursos, acontecem sem nenhum tipo de relacionamento entre si, esquecem que pertencem a redes. Precisamos repensar desde o conhecimento que é repassado, como até os prédios nos quais são ensinados, os sistemas, equipamentos, material. Tudo deve fazer parte de um todo, independente de qual área técnica objetiva”.

Desta maneira, ao tentarmos aproximar a arquitetura, forma, função, técnica e tecnologia teremos melhores profissionais, preparados para lidar com esses novos tempos. A forma segue a função? A função segue a economia? A economia segue a técnica? E a técnica segue a forma?

E ainda existe outra pegunta: Qual o custo de uma arquitetura sustentável?  Um custo que vale a pena. Por exemplo, a implementação de técnicas para economia de água ou energia, podem ser caras no início, mas com certeza se pagam, cada vez mais, em menor tempo.

No final, a questao é, não deveriam ser todos os projetos sustentáveis? Ou melhor, se todos os projetos fossem sustentáveis desde começo, então por que chamá-los assim? E viva a utopia!

Por fim, mais do que tudo que quis dizer neste post, sustentabilidade demanda equilíbrio. Se antes, arquitetos antigos pensavam nas melhores formas para edificar junto ao meio ambiente, hoje, devemos nos adequar as mudanças projetuais de forma natural e progressiva, pois depois da revolução industrial, só precisamos pensar em novas maneiras para que tudo volte a ser “nomal” usando a tecnologia e modernidade ao nosso favor, sem o famoso despercídio.

Fonte: aqui e imagem

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19 responses to “Como é o curso de arquitetura? Parte 3

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  9. olá. Acho que o que você disse tudo aí tem haver com geografia, ou posso está errada, não sei.. Gosto muito de geografia essas pesquisa de clima,poluição enfim tudo que envolve as grandes cidades, por isso penso em fazer arquitetura mas ainda tenho muitas dúvidas. Enfim queria saber se geografia tem haver também com o curso ou só matemática mesmo? ! Kkk

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    • Olá Mona, tudo bem?
      O curso de arquitetura possui muitas matérias de cálculo, como matemática e física, mas também possui matérias que envolvem história, geografia, desenho e projeto. Umas das matérias mais próxima da geografia é a Topografia, onde estudamos o solo, terrenos e muito mais.
      Como arquiteta você poderá se especializar em controle de clima em edificações por exemplo e tentar unir duas coisas que costas em uma. A profissão de arquiteto é muito ampla e você pode agregar outros conhecimentos para melhorar sua carreira.
      Como diminuir a poluição das grandes cidades através da arquitetura? É um questionamento que no futuro você pode se aprofundar. Geografia e arquitetura são cursos bem diferentes, mas cabe a você escolher o que mais lhe agrada e seguir na sua carreira.
      Boa sorte e qualquer dúvida é só deixar um comentário!
      Obrigado!

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  10. Olá! Tenho 16 anos e já penso na faculdade e como devo me preparar intelectualmente, financeiramente e psicologicamente. Sou amante de artes, de arquitetura e designe, mas receio não ser tão boa em desenho e temo ter que desistir do meu sonho de me torna uma arquiteta por isso. Você disse que o desenho manual é algo não muito usual hoje em dia, mas acredito que seja algo muito importante. O que você me diz?
    Adorei seus posts!

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    • Olá Dejovana, tudo bem?
      Que bom que já está pensando no seu futuro, realmente é bom se preparar para o que está por vir.
      Eu comentei sim que o desenho a mão não é muito usual e pessoas que não sabem desenhar podem se tornar arquitetas sim. Claro que ao longo do curso você será obrigada a desenhar e pode acabar tomando gosto por isso, mas não é algo que seja imprescindível. Você deve sim, saber passar uma ideia, mostrar ao cliente o que quer fazer, mas não precisa ser um desenho realístico, por isso que o croqui, o desenho feito a mão, nem sempre é tão bonito assim. Claro que existem arquitetos que desenham maravilhosamente bem, mas com o advento da computação, creio que o mais importante hoje seja trabalhar com softwares de projeto do que saber desenhar muito bem a mão.
      Como eu disse, você deve ser capaz de se expressar com um lápis, pois quando precisar nem sempre vai ter tempo ou um computador a sua frente para mostrar o que está na sua cabeça. Durante os 10 períodos da faculdade você terá uma matéria de projeto, então com certeza vai desenhar bastante. Então não se preocupe, siga seu sonho e não deixe um simples fato de não saber desenhar tão bem faça com que você desista.
      Se faz você feliz, siga em frente, durante o percurso você vai se sair muito melhor tentando, do que ter desistido antes mesmo de começar.
      Boa sorte na sua carreira!

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  11. Olá, tenho 15 anos e penso em seguir a carreira de arquitetura. Sei que este curso é bem amplo com várias matérias inclusive cálculos, mas queria saber se o conhecimento em a matemática e a fisica em arquitetura é muito aprofundado, ou é mais simples? Que parte da matemática se usa? Será que se eu não for muito boa com a fisica consigo cursar arquitetura?
    Espero uma resposta e agradeço desde já. Gostei muito dos posts, me esclareceu várias outras coisas.

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    • Olá Giulia, tudo bem?
      Depende do que você entende como aprofundado. Comparando com engenharia civil, por exemplo, a matemática e a física do curso de arquitetura é bem mais simples. O curso não é voltado para essas matérias. Nós estudamos sim, mas sem a mesma ênfase no cálculo estrutural.
      Uma coisa que sempre falo para os leitores que tem essa dúvida é o seguinte: durante o curso sempre vai ter matérias que não gostamos ou que não somos bons, mas para se tornar uma arquiteta você terá que passar por todas elas. Ser boa ou não, não significa que você não irá conseguir aprender coisas novas não é mesmo? Se a sua meta é se tornar uma arquiteta, terá que se dedicar e estudar um pouquinho mais física por exemplo. Mas também existem outras disciplinas como projeto, história, desenho, cálculos estruturais, entre tantas que você verá ao longo do curso.
      Qualquer coisa é só mandar um comentário, obrigado!

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  12. Texto muito bom! Só me inspirou mais ainda a cursar arquitetura, agora a fora de vontade pra passar no vestibular só aumenta, obrigada!

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